20090824

Primeira Parte : O fim.


Primeiro eu tive medo. Medo do que viria depois. Se tudo o que dizem é verdade, se eu iria encontrar os ancestrais. Era iminente, era fato. O ser humano só mostra seu verdadeiro valor quando se encontra frente a uma horda de zumbis. Não senti pena de mim, senti que teria que proteger os outros, somente. A gasolina havia acabado . . . situação clássica. A pequena horda chegava logo atrás e alguém teria que atrasá-los. Quem mais perfeito do que eu? O garoto aficcionado por zumbis, o melhor corredor dentre os sobreviventes. Eu só não sabia que minhas piadas sobre invasões de mortos vivos se tornariam realidade. Armageddon ? Só para aqueles que não possuíam sangue frio o bastante para permanecerem vivos, e infelizmente, eu me encontrava em um desses grupos. O resto dos meus já estava a salvo, tornaria eu a vê-los ?


Pouco tempo para pensar Calvin, concentre-se. Camionete sem gasolina, criaturas do apocalipse chegando. Sangue na minha camiseta branca. Sempre tem que ser branca quando há sangue. Se eu soubesse que os zumbis chegariam tão cedo eu teria escolhido algo vermelho para vestir. Droga ! Esqueça ! Foco, concentração ! Avaliar danos : joelhos doendo, doendo muito, não deveria ter feito só dez sessões de fisioterapia. Tudo bem, a adrenalina do meu corpo deve ser capaz de suprir a dor. Será ? Arrependimento por não ter estudado medicina. De que vale Direito agora ? Não se pode processar um zumbi.


Avaliar chances de sobrevivência. Maldição ! Tempo ecasso demais. Pense rápido. "Pessoal, saiam da camionete e caminhem por fora da estrada, zumbis não são bons corredores em terrenos irregulares. Vão nessa direção até encontrarem uma estrada de chão batido. Prossigam de acordo com o meu mapa até chegarem à barreira, são dezesseis kilômetros ao todo. Descansem a cada uma hora. Apresentem-se, digam que estavam comigo. Deixem comigo só o Winchester 22."


Parei por um segundo, respirei fundo, olhei para o céu cinzento, senti a garoa, apertei as mãos e disse: "Digam que eu talvez não retorne". Vi olhares marejados, e então, antes de pensarem em se despedir, eu gritei enquanto começava a minha última corrida : "Adeus Jables! "


Katana na mão esquerda, Winchester na mão direita. Sorri e pensei que João do Santo Cristo não tinha uma katana, hahaha. Olhei para as minhas pernas: calças de academia me ajudavam na maratona da morte. Enfim, me aproximando do malditos gritei chamando a atenção. Funcionou perfeitamente. De longe avistei o pessoal indo na direção correta e pensei: Vou morrer porque um filho de uma puta esqueceu o galão extra de gasolina. Hahaha. Nessas horas, tudo vira piada.


Corri muito, muito mesmo, mas eles não cansavam de maneira alguma. Então, dei meu último pique para me adiantar um pouco mais. Parei no meio de uma rodovia já deserta. Me virei e comecei a carnificina. A munição parecia ser o bastante se eu economizasse, mas era uma porcaria de 22. Pelo menos desfalquei a linha de frente. Então bolei uma estratégia que seria a minha salvação. Correr, parar, virar, mirar, atirar. Eles levavam tempo até passarem entre os corpos caídos à frente os quais eu havia derrubado, isso me dava tempo. Enfim, eram burros, eram puro extinto. Corriam como predadores, mas possuíam capacidade cognitiva limitada.


Cansado e agora sem balas. Fiz o impossível. Derrubei a maioria. Sobraram três, mas eu ainda tinha a minha katana. Espada milagrosa. Afiada por um chaveiro a troco de dez reais. Melhor idéia que eu já tive na vida. Enfim, eram três e tinha que pegá-los separados, mas não havia mais fôlego depois da corrida. Lancei então a espingarda sobre um deles. Por muita sorte ele foi ao chão e ficaria ali por algum tempo. Dois. Se eu houvesse distração, eu estaria morto. Eu tinha de enfileirá-los, assim pegaria um de cada vez. Deixei que viessem até mim, afinal, era provável que um deles correria mais rápido para me alcançar. São zumbis, mas mesmo assim possuem diferencial físico. Idéia correta, havia alguns metros de distância entre eles. Uma esquiva lateral e uma corte direcionado às pernas levou um deles ao chão. O impacto me fez titubear e logo chegou o outro. Empenhar em posição de ataque foi o bastante para fazê-lo sentir em suas entranhas a lâmina fria. Ele veio até mim, só precisei segurar firme a espada apontada para frente. Após, finalizei os dois que estavam jogados ao chão.



Acabou. Eu havia me salvado. Estava muito cansado. Havia conseguido. Não. não. impossível. Olhei para a direita, e avistei mais um pequeno grupo de carniceiros que vinha caminhando pelo meio da plantação. Me avistaram. Sem chance alguma de correr. Cansaço demais.



Último grito de guerreiro. Mas eu não sou nenhum sayajin. Bastaram três ou quatro deles para eu sentir algo raspando meu pescoço. O cansaço era tanto que não havia dor. Fechei meus olhos. Fechei meus olhos para sempre, sem ao menos dizer adeus para aqueles que eu realmente prezava.


Um comentário:

  1. meudeus!
    deus resolve nessas horas...
    você foi no ubatã no final de semana e passou pelo milharal, o milharal faz isso com a gente
    você virou um zumbi? tenho medo de zumbis
    a mah tbm e a carol nem se fala
    não queremos zumbis em casa
    vc me diverte, seu doido!!!

    vou te levar pra ludoteca, experiencias e vivencias alimentam nosso imaginário
    nos traz a luz da sabedoria
    quando nos descobrimos em nós mesmos

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