20091010

Terceira Parte : Sorria !


Havia tempos em que eu não sorria. O mundo , segundo alguns, chegara ao fim. Violência e sangue gratuitos, sons da morte, paredes brancas manchadas de vermelho por todos os lados. Mesmo assim, eu acabava de me surpreender com um sorriso. Um sorriso em minha face.


Havia se passado aproximadamente um mês desde que eu descobri o que eu havia me tornado. Um morto-vivo com consciência, um zumbi pensante. O termo é horrível, mas eu tinha que aceitar o que eu era agora. O que mais me intrigava é que, apesar do instinto que me acorrentava, eu consegui superar facilmente a vontade de comer carne crua. Frutas são uma ótima opção quando você se encontra isolado no meio do fim dos tempos e tudo se encontra deserto e parado.


Minha caminhada em busca do acampamento em que se encontravam todos aqueles que eu resgatei fora frustrada. Quando me deparei com tudo silencioso, presumi que estavam todos mortos. Entrei em choque e pensei que tudo havia sido em vão. Por um minuto, achei que estava tudo perdido. Pessoas com as quais criei um vínculo, inclusive minha família, estariam todos mortos?


Me esgueirei até a entrada bem fortificada e escondida da casa que uma vez havia sido a esperança de muitos. Ninguém, nem mortos, nem vivos. Não havia sinal de entrada dos abomináveis. Está tudo bem, pensei. Aqueles em que eu depositava confiança não eram burros, eram caçadores de zumbis, como eu fui. Eles haviam se deslocado pois não havia vestígios de estoque de comida nem de munição. Alívio, havia chance de estarem vivos. Nem tudo estava perdido. Só eu.


Segui até a próxima cidade. Certamente passariam por lá para verificar se ainda existia possibilidade de coleta de suprimentos. Era arriscado, porém, com carros fortificados e combustível extra, estariam seguros.


Me deparei com um deserto. Corpos e mais corpos despedaçados de cidadãos massacrados. Nenhum rastro de zumbi por enquanto. Desde o ocorrido, não havia feito contato com mortos-vivos. Até então tudo bem . . . até então.


Avistei uma horda em uma dessas lojas de conveniência de postos automotivos. Ouvi gritos, alguém deveria estar abrigando-se ali. Então, aconteceu o inesperado. Eu sorri. Sim, eu sorri. Um riso de alegria, um riso pronto para matar, um riso instintivo. Puxei o ar para dentro dos pulmões como se estivesse deixando a adrenalina tomar conta de mim. Eu ainda carregava minha katana ceifadora de almas. Haha, eu estava alegre por poder matar aqueles que traziam tamanho mal. Nem me assutava mais com aquilo que me movia. Forcei os dentes e para chamar a atenção proferi um grito, um grito não, um grunhido de monstro assassino. Morderam a isca, infelizes. A única dúvida era se eles me atacariam, afinal, eu era um deles agora hipoteticamente. Aquele cão havia partido para cima de mim aquela vez então pensei que ocorreria o mesmo com os zumbis. Tiro certo. Vieram com tudo.


Correndo como leões atrás de uma presa eles vieram. Eu não esperei, pois tudo o que eu queria era matá-los, corri mais rápido ainda para cima deles. Lembrei do William Wallace em Coração Valente, só que ao invés de azul, minha cara era manchada de vermelho. Eles só tinham dentes e eu tinha uma espada. Tomei várias mordidas, mas como eu já possuía olhos de Marylin Manson e lábios do Coringa, pensei que não me fariam mal. Cortei, cortei e cortei mais um pouco. Roupa vermelha, corpo vermelho. Brancos, somente meus olhos e meus dentes que se destacavam enquanto eu sorria triunfante em pé ao meio de um amontoado de corpos de zumbis.


Entrei na loja em que havia acontecido o ataque. Infelizmente, só corpos e paredes manchadas de vermelho novamente. Como eu queria ver outra cor, nem que fosse verde de catarro. Eu estava começando a me sentir só. E assim, segui minha jornada em busca daqueles que habitavam o acampamento que um dia eu protegi com tanta garra. Garra que agora eu tinha para exterminar mortos-vivos.


Ao menos, eu havia sorrido.


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